À Flor da Pele

quarta-feira, novembro 22, 2006

A paternidade

Li, há pouco, uma reflexão sobre os pais actuais. Nessa reflexão, era feita a distinção entre dois tipos de pais: os pais “novos” e os pais “velhos”. Não em questão de idade, mas de mentalidade.

Foi algo que me surpreendeu, porque dou por mim quase diariamente a pensar neste assunto, e algumas coisas que li coincidem muito com o que penso.
O pai que mora lá em casa é um pai novo: mima imenso a filha, brinca com ela, muda fraldas, e vem a voar do trabalho para casa para poder estar com ela algum tempo antes de ela ir para a cama, mas… existe sempre a crença, ainda que velada, de que a mãe está sempre disponível. O pai lá de casa marca reuniões sem ver primeiro a “agenda familiar”, sem ter a certeza que a mãe pode levar a filha ao infantário, ou ir buscá-la o fim do dia. O pai pode marcar um jantar, ou uma viagem sem ter de se assegurar da disponibilidade da mãe. Já a mãe tem uma atitude oposta: antes de marcar o que quer que seja, mesmo sendo trabalho, fala com o pai, para ver se é possível, para ver como isso irá alterar a rotina da filha. É sempre assim, por mais que a mãe esperneie. Já aconteceram diálogos do tipo:
Mãe - Amanhã não me dá jeito levar a princesa ao infantário. Podes levá-la?
Pai – Impossível, amanhã não dá mesmo!
O contrário nunca sucedeu, nem sequer se coloca a hipótese de poder vir a acontecer...

(Conclusão: a mãe leva a filha ao infantário todos os dias. Mesmo quando não dá jeito. Porque a mãe arranja sempre maneira de “dar jeito”).

O pai pode não dar banho à filha por estar cansado, embora a mãe já o tenha feito vezes sem conta com enxaquecas terríveis. O pai pode não dar o jantar à filha por estar sem paciência para a perrice dela, embora a mãe o faça a maioria das vezes, mesmo com os nervos à flor da pele, depois de um dia de trabalho. A mãe tem de o fazer; o pai faz porque é giro, ou porque vai dar uma ajuda à mãe.
Nunca é por mal, nem por falta de atenção. É algo que está enraizado: a mãe tem a obrigação (a palavra é talvez demasiado forte) de tratar do bem-estar dos filhos, ainda por cima, no nosso caso, tem um trabalho que lhe permite mais flexibilidade que ao pai.

Apercebo-me agora que isto acontece com vários casais recém-pais. Mesmo que não seja assumido desta forma, é isto que vai acontecendo.
Será uma questão geracional? Será cultural, vulgo, tuga?

3 Comentários:

  • Às 11:42 da tarde , Blogger Rantas disse...

    Gostei de ler este post - mesmo sendo pai, mesmo revendo-me em alguns dos comportamentos criticados.

    Tentando responder à sua pergunta - é geracional (antes a divisão de tarefas era bastante mais vincada), é cultural, penso que não será exclusivamente tuga - creio que é apanágio dos países meridionais.

    Mas tudo isso está lentamente a mudar, não lhe parece?

     
  • Às 10:30 da manhã , Blogger marília disse...

    Sim, Rantas, sem dúvida que está a mudar...mas "está a mudar", enquanto que a vida das mulheres "já mudou", havendo aqui algum desencontro de tempos.

     
  • Às 10:51 da tarde , Blogger Redus Maximus disse...

    Sim, parece-me que entendo a frase. Para as mulheres mudaram muitas coisas nos últimos tempos, felizmente, passaram a ter oportunidades quase iguais às dos homens em termos profissionais, liberdade sexual, sem falar de outras mais antigas como o direito ao voto. Em termos pessoais ou familiares as coisas vão mudando aos poucos, de facto. Por isso se fala das Super-mulheres dos dias de hoje que acumulam uma carreira profissional com o serem mães.
    Mas não tenho dúvidas que hoje ajudo muito mais em casa do que o meu pai ajudava (Damn!). Gostei muito do blog!

     

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial