À Flor da Pele

quinta-feira, agosto 31, 2006

Bem que se quis...

A Marisa Monte vem ao Porto. Já cá não vem há 5 anos, não se faz, temos saudades dela! Mal vi o primeiro cartaz, fui comprar os bilhetes. Como a minha cara metade não podia ir no dia 5, comprámos para o dia 6. Ena, já temos os bilhetes! Vai ser um grande concerto. E logo da Marisa, que serviu de banda sonora em tantos momentos decisivos da nossa vida. Ena!
Mas ontem à noite, falávamos do concerto (estamos deveras entusiasmados!) e dá-se o seguinte diálogo:
Ele: “eu acho que tu devias ir vê-la nos dois dias...eu não posso ir no dia 5, mas tu podes!”.
Eu penso: “está doido!”. E respondo no segundo a seguir: “Boa ideia! Vou ligar à D., que ela também quer ir e ainda não comprou bilhete”.
E pronto, hoje já tratei de tudo (isto é, arranjar baby-sitter para mais um dia, falar com a D. e comprar os bilhetes!). Ena, Ena! Vou ver DOIS concertos da Marisa Monte! Nem conto aos meus amigos, hão-de achar que de repente fiquei rica ou que enlouqueci de vez! Todos sabem que sou grande fã de música brasileira, mas acho que ninguém acredita neste exagero...
Vai ser bom...ainda por cima vou com a D., com quem já não estou há tanto tempo. É uma grande amiga, e foi com ela que partilhei alguns dos momentos “musicais” mais inesquecíveis da minha vida. Como ir para a porta do Coliseu, no segundo dia de concertos do Ney Matogrosso, sem bilhete, e implorar ao porteiro para nos deixar entrar já no encore. Ou ouvir o Sérgio Godinho no Rivoli dizer que ia tocar pela primeira vez ao vivo a música
“2º Andar Direito” porque havia umas meninas que a reclamavam sempre no final dos concertos...e nós, mudas de espanto, na plateia, a olhar uma para a outra. E tantas outras.
Por isso, chamem-me doida, mas hoje estou um pouquinho mais feliz. Vou ver a Marisa Monte. E em dose dupla!

terça-feira, agosto 29, 2006

Coragem

Mais uma vela que se apaga.
Pior, que sabemos agora que vai apagar-se...não tarda. E os que a rodeiam não querem, alimentam a esperança que ainda resta tanto ar para consumir. Acabo de saber que há uma vida prestes a terminar, por conta de uma doença mais forte que a vida, mais sábia que os médicos, tão traiçoeira. E eu só posso dar colo. É tudo.
Coragem, amiga, muita coragem!

Será apenas ignorância?

Se há discussão que me põe os nervos em franja é a questão da legalização do aborto. Eu sou uma pessoa bastante tolerante, respeito sempre a opinião dos outros, mas quando me vêm com a conversinha de que “isto não é andar a fazer sexo e a seguir ir matar os bebés” fico louca! Li esta alarvidade há uns dias atrás e realmente isto deixa-me preocupada.

Será que não se percebe realmente o cerne da questão? Será que se acredita que a maioria das mulheres o fazem de ânimo leve, tipo: “olha, que chatice... agora vou ter de abortar, paciência”...?

Quando se fala em descriminalizar a interrupção voluntária da gravidez, não se está falar em incentivá-la. Fala-se apenas de legalizá-la. Torná-la legal, não clandestina.
Uma mulher que decide abortar, regra geral, não volta atrás na sua decisão (muito menos o fará só porque isso é ilegal), e por isso seria desejável que o pudesse fazer num local devidamente equipado para o efeito, de onde saísse com vida e livre de infecções que a possam conduzir à morte. O que se pretende é que, quando uma mulher decide abortar, o faça em condições dignas de segurança e de higiene, e que não tenha de recorrer a práticas perigosas para a sua saúde.
Como todos sabemos (inclusivé, os senhores deputados do PP que sempre tão veementemente se insurgem contar a ideia de se descriminalizar o aborto) dentro das mulheres grávidas que tomam a decisão de abortar, haverá 2 grandes grupos:
(1) As que têm dinheiro suficiente para ir interromper a gravidez em segurança num país mais civilizado que o nosso, onde esta prática está legalizada;
(2) As que não têm dinheiro para isso, e que, portanto, usarão a agulha de croché, o comprimido de misoprostol ou acabarão por recorrer a uma qualquer “clínica” de vão de escada...Dentro deste grupo, a percentagem das que morrem ou que ficam com sequelas para toda a sua vida é assustadora. E é esta percentagem que se tenta reduzir.
E é sempre muito revoltante verificar que são quase sempre mulheres endinheiradas (do chamado Jet 7) que vemos a dar a cara pela NÃO legalização do aborto...sempre com os argumentos mais cretinos. Para estas senhoras, a sua (eventual) decisão nunca será posta em questão, está sempre tudo garantido, money rules.
Será hipocrisia, egoísmo ou apenas ignorância?

segunda-feira, agosto 28, 2006

Até logo...

Até logo, dizemos sempre. Mesmo que vás por mais que um dia, como agora. Até logo.
Acho que nunca te chego a explicar a falta que me fazes, as saudades que tenho de ti.
Gosto tanto de ti, com todas as variantes que esta frase pode ter. Por isso não te posso dizer até amanhã, ou até quarta. Não posso. É sempre até logo. Porque mesmo que não estejas, mais logo hei-de ver-te ou sentir-te na nossa casa, nalgum recanto, no meio do meu livro, nos olhos na nossa filha. E quando ela me pergunta: "o pai?" e eu não posso responder: "vem já!", então digo sempre: "vem mais logo".

quinta-feira, agosto 24, 2006

O Rio de Janeiro continua lindo...

Meu Rio de Janeiro...o que se passa contigo?

Todos os dias te morre gente. Assalto, bala perdida, vingança. Quando é que isto acaba?

quarta-feira, agosto 23, 2006

Não consigo

Consegui habituar-me a ver os miúdos com gesso ou ligaduras,
Consegui habituar-me a ver os doentes que passam em macas cheios de tubos e de aparelhos que apitam de forma ritmada,
Consegui habituar-me ao som da sirene das ambulâncias ou ao ruído do helicóptero do INEM,
Consegui habituar-me a ouvir os médicos a falar dos doentes como se falassem de coisas.
Mas não consigo habituar-me a ver as famílias chorar. Choro sempre por dentro, com elas.

Trabalho há 3 anos num hospital.

terça-feira, agosto 22, 2006

às vezes...

...à noite, quando estou a embalá-la, a preparar-lhe o caminho para o soninho, enquanto lhe canto a canção preferida dela... às vezes, ela levanta a cabecinha do meu ombro, olha para mim e faz-me uma festinha... ou dá-me um beijinho. E a seguir, volta a deitar a cabecinha no meu ombro. E nesses momentos sou tão feliz!

Meu querido mês de Agosto (Parte II)

Tenho a empregada de férias. A Dona R. é uma santa, torna-me os dias mais fáceis e quando chego a casa nos dias em que ela foi trabalhar, nota-se aquele cheiro a roupa lavada (que adoro!) e está tudo arrumadinho...é só entrar, pousar a carteira e (se a pimpolha deixar) esticar-me no sofá. Depois de uns 4...vá lá, 5 minutos de repouso, vou brincar com a bebé, que é para isso que eu sirvo. Na verdade, quase nunca me chego a deitar no sofá, que ela começa logo a apontar para o terraço e a dizer “popó” (é o triciclo...).

Mas voltando à Dona R... Nunca tive empregada doméstica, pelo que parte dos fins de semana eram passados alegremente de aspirador em punho ou esfregona a-dar-a-dar...quando acabávamos a saga, estávamos todos rotos, mas felizes (ah ah ah) e com a certeza de que na próxima semana, estava tudo uma bagunça outra vez...quando a pimpolha nasceu e tivemos de mudar de casa, tomamos a decisão de arranjar alguém para nos ajudar. Um papelinho na mercearia avisava que uma senhora, de nome R., estava disponível para trabalho doméstico e tinha 40 anos de experiência (mas que raio...? que idade terá a senhora?). Lá ligámos e ficamos a saber que a senhora tinha 52 anos e que tinha começado a trabalhar aos 12!!! Passámos a ter empregada! MAS agora ela está de férias...merecidas, pois claro, mas que tornam o meu mês de Agosto dramático!! Resta-me a esperança de que Setembro chegará...e com ele, a Dona R.!

segunda-feira, agosto 21, 2006

Vida

Neste tempo de ler diários e anotações que nos provocam terramotos interiores, sobra-me espaço interior para pensar na VIDA. Importam-me agora os pequenos momentos, importa-me um abraço, um sorriso de cumplicidade, ou até uma gargalhada pintalgada de dor. Porque é agora uma dor serena. Intensa, mas serena. Com a sensação de missão cumprida.Tento agora, numa fase mais calma, ordenar as sensações, perceber porque vem primeiro a lágrima, e depois o sorriso de nostalgia. Perceber a vida, mesmo no meio de uma treva tão escura como esta. Perceber a espiral, o encontro e a despedida. Estarmos vivos, estarmos juntos. Estar.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Meu querido mês de Agosto...

Mas afinal em que mês é que nós estamos? Chove, está frio, a minha filhota acorda de noite com medo do barulho da chuva torrencial...Será que chegou o Inverno e eu não dei por nada?
O nosso Verão já é tão curto, e ainda temos direito a interrupções destas? Que gracinha, ó S. Pedro!

quinta-feira, agosto 17, 2006

Nova inquilina

Ontem tivémos uma prenda...a chamada "rica prenda"! Uma tartaruga.
Parece que é exótica e tal. Bem, de facto é diferente da maioria das tartarugas que se veêm por aí. Eu não achei grande graça à ideia, já me chega ter a pimpolha para cuidar e me preocupar, agora ainda tenho um bichinho para alimentar, para lavar...enfim! A verdade é que a miúda achou piada à coisa, diz-lhe "olá" (quer dizer: "oiá" ...) e quer que eu lhe dê da comida dela. Vamos adoptá-la, claro está! Até já lhe demos um nome, é a Gioconda.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Dias seguintes

Aos poucos, tudo vai serenando.
Dizem-me que a dor acaba por dar lugar à saudade...mas por agora, as duas misturam-se, atropelam-se cá dentro e por vezes quase me impedem de respirar. Lembro-me sobretudo dos dois últimos dias. Mas porquê? Tantas recordações, tantos sorrisos e só me lembro do fim, da dor, da angústia, da certeza que iria acabar...E acabou mesmo.
No lugar dele, um silêncio, um espaço vazio, enorme. Em mim, uma sensação amarga de fim.
E de esperança, do dia em que vou recordá-lo a sorrir.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Fim

Quando eu morrer, batam em latas,
Corram aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas.

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à Andaluza
A um morto nada se recusa
E eu quero por força ir de burro.

(Mário de Sá Carneiro)

Adeus, Avô.

quinta-feira, agosto 10, 2006

O quê??

Li há pouco a seguinte notícia:
"Um avião militar cargueiro de Israel, transportando 'material bélico não ofensivo', fez uma escala na base militar das Lajes, nos Açores, na semana passada, confirmou uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros"
Mas que raio é material bélico não ofensivo? Serão armas ou munições...que não matam? São só de brincar?
Por favor...

quarta-feira, agosto 09, 2006

Último capítulo

É assim mesmo, a vida. Pois é, mas é uma merda. Não sei lidar com este último capítulo da vida de alguém que ocupa tanto espaço dentro de mim.
Olho-o e não lhe reconheço os traços...de magro, de pálido, de velho. Velho. Sem medo da palavra. Quando me afasto dele, vêm as recordações dos Verões infindáveis na casa deles, das brincadeiras no quintal, sempre com cuidado para não calcar as plantações. Dos jogos de cartas à tarde, à sombra.
Agora não sei o que ele sente, nem sei se sente alguma coisa. E isto dói...O meu avô aproxima-se inexoravelmente da porta de entrada para a sua última grande viagem, e eu não sei o que sinto. Só sei que dói. Hoje pela primeira vez, não falou, não comeu, nem reagiu à presença da mais nova e encantadora presença da família. Não sei quando isto vai acabar. Não sei se quero que isto acabe, mas sei que não quero que continue. Quero voltar a vê-lo como ele era, mas sei que não volto.
Parece que é assim mesmo, a vida.

Xô Pedro

É justo que faça referência, antes de mais nada, ao facto de ter sido o blog do Xô Pedro Ribeiro a iniciar-me nestas coisas. Fui até lá, vi aquilo e achei giro. Muito giro...vão lá espreitar!

Cheguei

Cheguei à blogosfera...
Com 30 anos e a viver no século XXI, eu não sabia o que era um blog...pode? não pode!
Agora já sei o que é, e até tenho um só para mim! ;)
Vive aqui, em
http://Aflor-da-pele.blogspot.com

Que seja um espaço de partilha e de emoções...à flor da pele!